Vota SIM
A IVG, vulgo Interrupção Voluntária da Gravidez e ainda mais vulgo, ABORTO volta a estar na ordem do dia. Já há uns dias é verdade mas dado que o referendo só na próxima semana parece-me que este post ainda vai a tempo…muito a tempo.
Para além disso e com já algum tempo de discussão já se pode opinar qualquer coisita fundamentadamente.
Ora bem, independentemente de estar há 2 semanas a ouvir as tretas do "sim" e do "não" o sentido da minha resposta à pergunta que vai ser feita no dia 11 de Fevereiro:
“Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"
Incondicionalmente, SIM.
Não me querendo alargar muito neste post (e porque já há demasiada informação sobre isto) não posso deixar de dizer aos apoiantes do não - essas mentes brilhantes (às quais não quero de maneira nenhuma ofender) do pensamento pós moderno - que basta que pensem um pouco …vá lá…tá a puxar pelo neurónio…helloooo…vocês acham mesmo que ainda que o resultado do referendo seja o "não", a prática de aborto vai deixar de existir???
FODA-SE…é preciso ser muito…. sei lá, como diga, eu não queria ofender...adiante.
Em 1998 ganhou o não, não ganhou? Apesar de tangencialmente (50% contra 48,3% de um universo de 32% de votantes, o que não deixa de ser vergonhoso….com uma clara distinção entre Norte (a favor do não) e Sul (a favor do sim)….sou nortenho mas VIVA O SUL).
Quantas mulheres morreram por falta de assistência médica ao realizar um aborto clandestino desde essa data??A questão não é nem nunca será por fim a esta prática mas sim por fim ao risco que as mulheres correm ao precisar de o fazer clandestinamente e proporcionar-lhes condições de higiene, segurança, protecção da saúde e dignidade. E além destas mortes?
Quem tem a sorte de sobreviver muitas vezes consegue-o à custa de problemas físicos diversos em que a impossibilidade de voltar a engravidar é um dos mais recorrentes.
E psicologicamente? Já não deve ser fácil tomar uma decisão destas por tudo o que a mesma implica e ainda por cima ao decidir fazê-lo, por ser a decisão mais sensata, saber que está, à luz da lei actual, a cometer um crime e eventualmente sujeita a punição??!!!!
Se calhar é melhor, por ex:
- Fazer nascer uma criança com 5 irmãos mais velhos, a viver num bairro de lata e com os pais desempregados e sem maneira de os sustentar.
- Ter uma mãe de 14 anos com um filho nos braços quando nem sequer tem idade pra tratar dela.
- Ter uma criança aos 17/18 anos e não podermos acabar os estudos pra então depois arranjar um emprego, planear a vida e finalmente ter filhos aos quais possamos dar uma oportunidade de terem melhores condições.
Não digo que não é possível, mas que fica bem mais complicado fica.
E ainda que quem viva estas situações e por qualquer motivo crê no "não" é livre de decidir…se quiser ter a criança pois sim senhor…se não quiser não tem de se sentir culpada por isso nem sofrer por falta de assistência por causa dessa decisão….e muito menos ser punida.
Não me venham dizer que um feto com 1 semana ou 1 mês de concepção é uma vida….
Comparar um aborto (até à 10ª semana que seja) com um homicídio parece-me para além de exagerado muito hipócrita.
E mais, não se trata de abortar quando ser quer…que me digam que abortar aos 8 meses de concepção era crime…bom….ia pensar….(de qq das formas acho que a minha ideia não seria grandemente alterada) mas o que está em causa são as primeiras 10 semanas….é um feto….não é uma vida…vida tem a mulher que carrega esse feto.
Bom….existem muitos movimentos pelo sim ainda mais pelo não (cá está a tacanhice do tuga men)…
Aceito respostas dos apoiantes do não mas por favor não me venham com argumentos parvos, dos quais deixo alguns exemplos:
- Um embrião é uma vida/ser humano (então porque lhe chamamos embrião???hmmm…estranho….gostaria que, se assim é, me explicassem porquê);
- Actualmente há acesso gratuito a consultas de planeamento familiar (como se isso evitasse a gravidez);
- Actualmente há acesso a contraceptivos vários (está provado que das mulheres que abortaram, 21% engravidou devido à falha do método contraceptivo.
“Só” mais algumas referências:
- Clero – sou católico por imposição mas puta que pariu (não consigo ter palavras mais agradáveis) os membros dessa classe e a forma como têm tentado passar a mensagem deles (o último caso conhecido então é gritante…deram às crianças que frequentam a catequese panfletos para elas entregarem aos pais com conteúdos com diálogos do género: “- Mãe, mataste o meu irmão?!!” – ridículo…devem querer aterrorizar as criancinhas….
- Médicos – como seres individuais que sai têm direito a ter a sua opinião. No entanto e caso o resultado do referendo seja SIM defendo que os médicos que não quiserem fazer abortos (que aleguem objecção de consciência) sejam punidos e severamente…afinal estão a faltar às suas obrigações enquanto profissionais.
Se o meu patrão me diz para trabalhar eu não lhe digo que não (nem tinha por que dizer)….e se dissesse o mais certo era ser despedido…e com toda a legitimidade.
- Europa – Países como a França, Inglaterra, Itália, Bélgica, Holanda, Alemanha, Suécia, Finlândia (e há mais…) prevêem a prática de IVG até às 12/18 semanas (dependendo do país) por razões socio-económicas ou a pedido da mulher…..é impressão minha ou são estes dos países mais desenvolvidos da Europa????
Portugal tem de seguir este rumo…pela dignidade do seu povo.
- Em caso de vitória do “sim” há que garantir o encerramento das clínicas clandestinas (que certamente farão o “serviço” mais barato caso este não seja comparticipado pelo INS).
- Se o “sim” ganhar haverá comparticipação?? Isso aí dava pano pra outro referendo me parece e eu nem sei se votava sim ou não….por um lado ao escolher “sim” estava a obrigar os apoiantes do “não” ao aborto a financiar abortos….por outro ao escolher o “não” estava a impedir as pessoas com dificuldades financeiras (e por norma menos informadas sobre estas questões e, como tal, mais propensas a necessitar de recorrer à IVG) de praticar IVG.
- Ainda considerando que o “sim” ganha (estou mm confiante, lol) abortar 1/2 vezes é uma coisa….abortar 12 vezes ao ano é outra….há que evitar estes casos de reincidência caso contrário também me parece que estamos a subverter a lei.
E pra terminar e sintetizar:
A despenalização do aborto não vai obrigar à sua prática (cada um decide por si) e ainda mais importante não vai banalizar ou favorecer a sua prática pois ela existe e pratica-se todos os dias. Trata-se apenas de a praticar com condições de higiene, segurança, assistência médica e dignidade para quem o pratica.
Por todos estes motivos e por muitos mais
VOTA SIM
Bem, desculpem lá o testamento mas tb só leram porque quiseram…lol
Até dia 11
Saudações da melhor bolacha do pacote,
3 Comments:
Os senhores que queimaram milhares na fogueira com a inquisição vão-te fazer a folha! Ai vão, vão!
concordo. só não acho que os médicos devam ser obrigados a participar em abortos. Devem poder invocar a objecção de consciência. Eu se fosse médico não o faria (salvo se houvesse razões muito fortes para o pedido da mulher) e tentaria dissuadir a minha companheira de o fazer. Voto sim pelo pragmatismo. É impossível acabar com ele. aborto haverá sempre e portanto que seja legal para que nenhuma mulher se afaste do SNS e vá para um vão de escadas com o medo de ser julgada. Outra razão é pela escolha. Eu não o faria mas aceito que a minha opinião é apenas uma e não creio ter o direito de impor aminha consciência a ninguém (porque é isso que o NÂO quer fazer.)
Aliás, o não parece-me amigo da hipocrisia. Quer que seja ilegal, proibido mas depois quer a suspensão dos julgamentos. Enfim..é a hipocrisia reinante da fachada da sociedade, tão amiga do NÂO e da moral de fachada.
Subscrevo Amor...fico contenete por saber que as nossas conversas sobre o assunto te inspiraram. Ganhou a dignidade e a liberdade da mulher (sim...da mulher pois os homens "papás" nunca seriam condenados). Viva o Sim! Agora vamos esperar e saber se todo este massacre do referendo serviu para algo...
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